9h25. Gent, Bélgica...
... E chove a potes lá fora. Acabo de chegar à minha faculdade, equipada com umas calças impermeáveis e o meu casaco preto (também impermeável). Tivesse eu me dado ao trabalho de pôr algum tipo de maquilhagem e iria parecer o Joker, mas como o meu ritual matinal apenas envolve colocar um bom creme hidratante e um pouco de BB cream, só pareço um gato ensopado quando entro no elevador. O meu cabelo está num desalinho e tento ignorá-lo enquanto me olho ao espelho.
Há algo de estranho nesta imagem e eu sei exactamente o que é: pareço belga. Não me importo minimamente com a chuva lá fora, embora não a aprecie minimamente, e independentemente dos 5ºC que o termómetro da farmácia marcava na rua, o calor de ter vindo de bicicleta dá-me um tom rosado às bochechas. Estivesse eu em Portugal, e sabia que a probabilidade de sair à rua com este tempo de bicicleta era inferior a zero, mas estou em Gent. E qualquer opção a andar de bicicleta nesta cidade ou é pouco prática, ou mais longa ou... menos flexível.
Chuva: se não a podes vencer junta-te a ela... |
Sim, tenho autocarros que me deixam na faculdade, sim estou só a 25 min a pé da faculdade... mas a minha bicicleta vintage é a minha companheira de viagem eleita. Tivesse eu carro aqui, e provavelmente a opção seria a mesma. Gent é, por predefinição, a cidade belga com mais bicicletas por metro quadrado. À semelhança de muitas cidades na Holanda, em Gent andar de bicicleta é quase tão normal como para nós portugueses fazermos uma viagem de carro de 500 m para ir ao mini-mercado. A lógica por detrás deste hábito: minimizar o impacto ecológico e ganhar qualidade de vida.
Por muito estranho que pareça, andar de bicicleta é aquela rotina diária que adquiri com maior facilidade ao viver em Gent, e uma das rotinas que mais aprecio. Não só tenho um boostzinho matinal de exercício, o que me deixa desperta para o dia de trabalho, como me dá plena liberdade de movimento na cidade. Adicionalmente, Gent é só uma das cidades mais bem adaptadas ao uso da bicicleta. Em quase qualquer sítio se encontra um local para guardar uma bicicleta, ciclovias abundam e quem conduz de carro é (geralmente) atento aos ciclistas. Gent é uma das cidades que considero mais seguras para andar de bicicleta... e no entanto o único acidente que tive numa bicicleta foi nesta mesma cidade. Uma história que remota a Janeiro de 2013 e que conta como personagem principal eu, um carro SUV e um final feliz (bem, bem no final...) de uma aluna em ERASMUS que acabou por fracturar apenas umas quantas vértebras.
Ainda assim ando de bicicleta, ainda assim continuo a usar a minha pequena vintage como veículo predilecto em Gente. Eu e quase toda a gente...
Umas mais vintage ( e coloridas) que outras, nesta cidade há bicicletas para todos os gostos. Regra é andar de bicicleta e, não ter uma é, literalmente, indispensável. Como um carro, com o benefício que a única gasolina que usa é as cervejas belgas que por aqui se bebem ou as waffles de liége (ou bruxelas) que encontramos no centro da cidade.
Umas mais vintage ( e coloridas) que outras, nesta cidade há bicicletas para todos os gostos. Regra é andar de bicicleta e, não ter uma é, literalmente, indispensável. Como um carro, com o benefício que a única gasolina que usa é as cervejas belgas que por aqui se bebem ou as waffles de liége (ou bruxelas) que encontramos no centro da cidade.
E assim me movimento todos os dias, por os cantos e recantos desta bela cidade. Há muitas coisas das quais sinto falta quando estou fora de Gent e, definitivaente, uma delas é o uso da minha velhinha bicicleta. Outras incluem as imensas cervejas de abadia (e não só) que são produzidas por este pequeno país fora, o chocolate, as Ribs do Amadeus... mas a essas coisas hei-de voltar um outro dia. Independentemente de todo, há uma coisa em Gent que no entanto não sinto grande falta (ou nutro qualquer tipo de afecto, na realidade...) é da chuva. Mas como a chuva é o segundo fenómeno mais comum em Gent a seguir a andar de bicicleta, não tenho grande hipótese senão enfiar as minhas causas impermeáveis e continuar a pedalar. Afinal, se há coisa que aprendi, é que a chuva não morde: apenas molha. E um banhozinho gelado matinal de vez em quando até faz bem para tonificar a pele... ou pelo menos assim prefiro continuar a pensar.
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Cátia
Centro de Gent (direita) e um barco café num canal de Gent (esquerda)